Os personagens de Jorge Amado que ninguém esquece
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Jorge Amado (1912 – 2001) revelou ao Brasil e ao mundo um pouco do jeito baiano de ser. É responsável pela imagem do povo e da cultura da Bahia marcada no imaginário de todos nós. Publicou seu primeiro romance, “O País do Carnaval”, aos 18 anos e nunca mais parou de escrever. Teve seus livros publicados em mais de 50 países, foi um Imortal da Academia Brasileira de Letras e recebeu dezenas de prêmios. Sua obra é um dos maiores patrimônios culturais do país, com mais de 30 romances repletos de personagens inesquecíveis a várias gerações de leitores.
Overview
Antônio Balduíno
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O protagonista de “Jubiabá” (1935), Antônio Balduíno, o Baldo, foi um dos primeiros heróis negros da literatura brasileira. Herói não no sentido “hollywoodiano”, mas um lutador, um menino pobre que vive mil desventuras na tentativa de sobreviver sozinho e defender a causa do homem negro, em uma época na qual o conflito racial ainda era muito presente, apesar do fim da escravidão quase meio século antes. O nome do livro faz referência a um pai-de-santo de Salvador que na ficção é o conselheiro de Baldo. O livro foi transformado em radionovela, filme, série de televisão e até história em quadrinhos.
Guma
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O pescador Guma é um dos protagonistas de “Mar Morto” (1936) romance que gira em torno de uma colônia de pescadores em Salvador. Em seu quinto livro, Jorge Amado narra as dificuldades e desafios daqueles que dependem do mar para sobreviver e sentem já ter o destino traçado antes de nascer, obrigados a honrar a tradição familiar e seguir o caminho trilhado por seus pais. O livro foi transformado em radionovela nos anos 1940, passou aos quadrinhos na década de 1960 e serviu de inspiração para a telenovela “Porto dos Milagres”, da Rede Globo, em 2001. Guma foi interpretado por Marcos Palmeira e seu par romântico, Lívia, por Flávia Alessandra.
Os Capitães de Areia
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“Capitães de Areia” (1937) narra o drama de um grupo de meninos abandonados que tomam um velho armazém na Cidade Baixa, Salvador, e formam uma espécie de gangue temida pelas “boas famílias”. Neste romance clássico, leitura obrigatória para os principais vestibulares do país, conhecemos Pedro Bala, líder do grupo, e seus parceiros de vida, crime, luta e malandragem. O grupo de jovens reúne perfis muito distintos, mas que têm em comum o que resta de sua infância roubada e o amadurecimento precoce imposto pela realidade do mundo em que vivem. O enredo, até hoje muito atual, foi levado à TV e aos cinemas.
Gabriela
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“Gabriela, cravo e canela” (1958) é o livro mais famoso de Jorge Amado – foi traduzido para mais de trinta línguas, teve três versões em telenovelas e virou filme, com Sonia Braga na pele da protagonista. O romance apresenta a história de uma retirante do sertão da Bahia que chega a Ilhéus em busca de uma vida melhor. É a primeira heroína de Jorge Amado, uma mulher que conhece seus poderes e usa sua sensualidade como um trunfo. Com o livro, o escritor conquistou os prêmios Machado de Assis e Jabuti, além de ter sido obra fundamental para sua indicação à Academia Brasileira de Letras.
Quincas Berro D'água
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Quincas Berro Dágua é o pseudônimo que recebe Joaquim Soares da Cunha, até então um respeitável homem de família e funcionário público quando passa a ser o bêbado da cidade. Em “A morte e a Morte de Quincas Berro Dágua” (1961), Jorge Amado constrói de maneira irreverente um mistério sobre a morte do protagonista. Para a família, ele se foi de morte natural, mas os amigos de bebedeira não creem que ele está morto quando o vêem sorrindo no caixão e o levam para uma noitada. Vinícius de Moraes e outros críticos importantes consideram esta a obra-prima de Jorge Amado.
Dona Flor
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“Dona Flor e seus dois maridos” (1966) é sem dúvida um dos livros mais populares do autor. A versão para o cinema, com Sonia Braga como protagonista, foi por décadas o filme nacional de maior bilheteria. A narrativa gira em torno de Dona Flor, uma jovem mulher casada com um malandro, Vadinho, que morre precocemente. Após o luto, Dona Flor acaba se envolvendo com o pacato farmacêutico Teodoro Madureira, com quem se casa, ainda que sem muita paixão. Madureira é um homem calmo, sério, o oposto de Vadinho. Mas a vida do casal não será mais a mesma com a chegada do fantasma do falecido, que vem para ficar.
Pedro Arcanjo
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Em “Tenda dos Milagres” (1969), Jorge Amado narra os feitos e desventuras de Pedro Arcanjo. O rapaz pobre e mestiço que trabalha como bedel de uma universidade se inspira no ambiente acadêmico para sozinho estudar e teorizar sobre a cultura negra e baiana. Seus livros passam a ser cultuados como referência sobre identidade afro-brasileira e combate ao preconceito. No entanto, expressar suas ideias lhe custa caro: Pedro Arcanjo é perseguido pela elite intelectual branca, perde o emprego e cai no esquecimento. Só muitos anos após sua morte, seus estudos voltarão a ser reconhecidos. O livro virou filme, em 1977, e minissérie de televisão, em 1985.
Tereza Batista
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A protagonista de “Tereza Batista cansada de guerra” (1972) é uma das mais fortes heroínas de Jorge Amado. Ainda muito jovem, a menina órfã precisa enfrentar a crueldade do ser humano ao ser vendida pela tia a um homem rico. Capitão Justo se torna “dono” de Tereza e faz a menina passar por todo tipo de maus-tratos. Este é só o começo da saga de Tereza que até poder descansar de tanta guerra passará pela prisão, por um convento, um bordel, um cabaré, muitos amores e desilusões. O texto foi adaptado como minissérie para a televisão em 1992.
Tieta
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Em “Tieta do Agreste” (1977), Jorge Amado conta a história de Antonieta, conhecida no pequeno povoado de Sant’Ana do Agreste como Tieta. A linda e sensual jovem se inicia nas artes do amor muito cedo e é mandada embora por seu pai após descobrir as aventuras da filha. Tieta então deixa a cidade, começa a se prostituir para sobreviver e se torna cafetina em São Paulo. Após décadas sem contato com a família, que já a dava como morta, Tieta resolve regressar. Seu retorno causa alvoroço na cidade. Mulher madura, mas ainda muito bonita, continua atraindo olhares por onde passa. Em 1989 virou telenovela, uma das mais lembradas de todos os tempos.
Referências
Sobre o Autor
Victoria Vajda atua como jornalista desde 2004. Foi colunista da Revista MTV, escreveu para diversas publicações da editora Trip (Gol, Audi, Natura), revistas e sites variados. Tem o inglês como segunda língua e mora na Argentina há três anos, onde aperfeiçoou a língua espanhola. Em 2010, começou a trabalhar como tradutora (inglês/português e espanhol/português), trabalhando principalmente com legendagem para TV e tradução de textos jornalísticos.
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