Por que o mundo não vai acabar dia 21 de dezembro
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O dia 21 de dezembro de 2012 está marcado por profecias apocalípticas de colisões devastadoras, alinhamentos galáticos, erupções vulcânicas gigantescas, supernovas catastróficas e tempestades solares violentíssimas. Mas nós sobrevivemos a isso e pessoas sensatas, como o físico Brian Cox, que repudiou os que acreditavam nessas superstições e os denominou "idiotas", estão mais que felizes de explicar o porquê, que está a seguir.
Overview
Apresentando o calendário Maia
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A fonte mais comum dessas crenças é o calendário Maia, que se diz terminar sinistramente no dia 21 de dezembro de 2012. Na realidade, basta ler sobre o calendário Maia para amainar esses temores. O calendário Maia consiste, na verdade, de três sistemas diferentes, usados de acordo com as necessidades. O que mede longos períodos de tempo é chamado de Contagem Longa.
Eles usavam um esquema de contagem de "base 20", diferente do nosso esquema de base 10, pois é a quantidade de dedos que humanos têm nas mãos e nos pés. Dessa forma, seu calendário funciona com 20 dias equivalendo a um "winal", 18 dias (por algum motivo) sendo iguais a um "tun", 20 tuns valendo um "katun" e 20 destes correspondendo a um "baktun". A contagem de baktuns chega a 13 no dia 21 de dezembro e alguns estudiosos acreditam que, neste ponto, o calendário passa para uma fórmula de medida maior.
A predição do apocalipse é baseada em nossos dedos das mãos e dos pés
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É neste ponto que teóricos acreditam que estamos condenados por algum acontecimento catastrófico. Como, exatamente, é possível que um sistema arbitrário, simplesmente baseado em sequências derivadas do número de dedos que temos nas mãos e pés possa prever algo como uma colisão de um asteroide? O universo, francamente, não funciona de acordo com as extremidades de uma criatura insignificante. E mesmo que funcionasse, porque usar a quantidade que nós temos e não, digamos, os três dedos de uma preguiça?
O início do calendário maia
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Como é tendência em todas as civilizações, os maias iniciaram seu calendário em uma data culturalmente significante. Nós usamos o suposto ano do nascimento de Jesus, enquanto os maias usavam o dia 11 de agosto de 3114 AC. Essa data é alcançada em nosso calendário pelo mesmo método que permitiu calcular o 13º baktun como o dia 21 de dezembro. Como se o fato de o calendário ser baseado no nosso número de dedos já não fosse ruim o suficiente, ele também inicia em uma data essencialmente insignificante, designada importante pelos Maias. Qualquer um que acredite na teoria deve, portanto, também crer que se os maias tivessem decidido usar o dia 11 de maio de 3114 AC como data de início, já estaríamos todos mortos.
Nem os maias viam isso como o fim do mundo
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Um dos aspectos mais preocupantes dessa professia sem sentido é que ela nem mesmo foi feita pelos Maias. Na verdade, apenas um monumento da civilização encontrado menciona uma "data final" aos 13 baktuns. Stephen Houston, um epigrafista (alguém que decodifica inscrições) da Universidade do Texas, EUA, explica que essa inscrição está relacionada ao prédio associado a ela, não a uma profecia sobre o fim do mundo. Ele descreve aquele povo como tranquilo ou até "um pouco tedioso" no que diz respeito a esse assunto.
O calendário Maia é cíclico
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Se os Maias previram alguma coisa sobre chegar aos 13 baktuns, é que deveria haver uma grande festa. O calendário funciona em ciclos e o reinício destes ciclos era geralmente motivo de celebração. Como os baktuns são números bastante grandes (e 13 é um número significativo para os maias, talvez por que é o número de "juntas" dobráveis no corpo humano) essa festa teria sido ótima. O que se quer dizer com isso é que os próprios baktuns funcionam em ciclos e, se 13 é o ponto em que ele se reinicia, a próxima medida de tempo, os "piktuns" começaria a contar. Se o mundo fosse acabar aos 13 baktuns, por que os maias criariam piktuns ou até mesmo períodos mais longos de "kalabtuns" (20 piktuns) ou "kinchiltuns" (20 kalabtuns)? O calendário não termina, só funciona em ciclos.
13 baktuns podem até nem ser um piktun
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Você poderia argumentar que o apocalipse ainda poderia vir quando se reiniciar os baktuns e que os Maias simplesmente criaram períodos de tempo inúteis. Um outro problema é que a maioria dos estudiosos acredita que, na verdade, como eles trabalhavam com ciclos de 20, que realmente haviam 20 baktuns em um piktun. Assim o "juízo final" viria no ano 4772, não 2012.
Alinhamentos galáticos são insignificantes
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Se a base das "profecias" não é falha o suficiente para você, os mecanismos que deveriam causar nosso fim são igualmente vazios. Muitas teorias afirmam que o sol irá se alinhar ao centro de nossa galáxia no dia 21 de dezembro (solstício de verão) de 2012 e isso resultará em nosso fim permanente. Há muitos problemas com essa ideia. A primeira é que a órbita do nosso planeta não se equipara com o centro da galáxia, portanto, o "alinhamento" do sol sempre estará um tanto desencontrado. Além disso, essa ideia vem da perspectiva do nosso planeta, que, como já citamos, é absolutamente irrelevante para o resto do universo. Nós orbitamos o sol todos os anos e, na verdade, "alinhamentos" do sol com o centro da galáxia ocorrem em ambos os solstícios (ou seja, também no dia 21 de junho). O fato de o mundo não ter acabado em junho, ou no ano passado, prova que não há motivo algum para isso causar o fim do mundo.
Não há um alinhamento planetário incomum em 2012
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Alguns pregadores do juízo final anunciam um alinhamento planetário de Júpiter e Saturno no dia 21 de dezembro que irá causar disrupções nos campos eletromagnético ou gravitacional (essas duas forças que parecem ser alternadas indiscriminadamente nas teorias) que irão, de alguma forma, nos matar. Deixando isso de lado por um instante, você pode traçar linhas entre quaisquer dois pontos (portanto, quaisquer dois planetas), em qualquer momento, portanto, o termo "alinhamento" está incorreto. Ao que estão se referindo chama-se "conjunção" e não há uma sequer ocorrendo em 2012 que não ocorra todos os anos. Um agrupamento de cinco planetas (incluindo Júpiter e Saturno) e a lua ocorrerá em 2040, assim como houve um no ano 2000.
Alinhamentos planetários não nos fazem mal
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Novamente, uma rápida análise da história astronômica nos diz que, nesses alinhamentos, nada de mau nos acontece. Esse eventos não criam manchas solares, não causam terremotos e nada do que fazem afeta o sol de forma diferente do normal. Os teóricos do apocalipse afirmam que esse alinhamento especial fará com que o sol "balance", o que aumentará a magnitude das ejeções de massa coronal (EMCs) e potencialmente nos ameaçar. O problema é que as massas de Júpiter e Saturno sempre farão o sol balançar, pois a gravidade é recíproca, portanto o "alinhamento" fictício seria insignificante. O sol tem suas próprias regras e só emite mais EMCs durante o pico do seu ciclo de 11 anos. A magnitude pode ser enorme mesmo no ponto baixo do ciclo e não tem relação ao empuxo gravitacional dos planetas.
O ciclo de manchas solares não chega ao pico em 2012
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O ciclo de 11 anos que nos permite saber quando esperar mais EMCs não chega a seu pico no dia que os Maias "previram" usando seus dedos. Na verdade, isso só ocorrerá na primavera de 2013 e nem será tão forte assim!
Não haverá um impacto devastador
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Outra classe de ideias idiotas sobre o dia 21 de dezembro de 2012 é a de que seremos atingidos por um objeto espacial. Já houveram inúmeros candidatos a causar esse impacto, incluindo o Planeta X, Nibiru, um cometa, um asteroide, uma estrela anã vermelha, uma estrela anã marrom e um buraco negro. Cientistas, obviamente, rastreiam objetos que possam nos acertar e nem é preciso dizer que nada disso irá ocorrer. Além disso, Nibiru e o Planeta X são fictícios, assim como a aludida Nemesis vermelha ou estrela anã marrom.
Os polos magnéticos levam um bom tempo para se inverter
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Muitos dos cenários do apocalipse dependem de uma rápida inversão dos polos magnéticos da terra, o que significa que bússolas apontariam para o sul e, aparentemente, violentas erupções vulcânicas e atividades tectônicas aconteceriam. Na realidade, os polos levariam de algumas centenas a milhares de anos para se inverter e essas mudanças não teriam impacto na atividade geológica do planeta. Cientistas nem mesmo sabem ao certo se isso já começou a acontecer.
O campo magnético da Terra não é afetado por fontes externas
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Alguns propagadores do medo afirmam que os efeitos no sol de seus alinhamentos planetários fictícios poderiam causar uma inversão muito mais rápida no campo magnético. O fato desta teoria envolver dois elementos já identificados como fictícios acusa que não há risco disso ocorrer em dezembro. E mais, o campo magnético da terra é gerado por um geodínamo, que não pode ser alterado por campos magnéticos/gravitacionais de outros corpos celestes.
A Terra não vai começar a girar para o outro lado
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Outra ideia desequilibrada é a de que a Terra vai, por algum motivo, começar a girar no sentido oposto em 21 de dezembro e, por alguma outra razão, isso irá nos matar. A única forma pela qual isso realmente poderia acontecer seria se algo do tamanho de Marte se chocasse contra nosso planeta. Se isso acontecesse, o menor de nossos problemas seria a direção para a qual giraríamos. Quer saber se isso irá acontecer nos próximos quatro anos? Olhe pela janela. Você consegue ver? Não. Bem, então não há nada com que se preocupar.
A Betelgeuse não entrará em supernova em dezembro
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As supernovas são explosões cósmicas gigantes, que são resultado do colapso de uma estrela sobre seu próprio peso. A Betelgeuse é uma supergigante vermelha (tradução: uma das grandes) na constelação de Órion. Acredita-se que ela esteja prestes a entrar em supernova, mas não se pode prever em que ano. Tudo o que se sabe é que irá acontecer em algum momento dos próximos milhões de anos. Além disso, ela não nos afetaria, apenas acenderia no céu como um segundo sol durante um período.
O supervulcão de Yellowstone não entrará em erupção em dezembro
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Os teóricos dizem que o supervulcão em Yellowsone está "atrasado" para uma erupção. Afirmam isso como se a atividade vulcânica da Terra fosse confiável como o mecanismo de um relógio, apesar do fato de isso só ter ocorrido três vezes na história. Os intervalos entre esses acontecimentos foram de 800.000 e 660.000 anos. Isso não é o suficiente para definir uma média. Mas, mesmo se usarmos o número menor, faltam pelo menos 20.000 anos.
11:11 não significa coisa alguma
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Nós humanos gostamos de ver padrões em tudo e, quando foi revelado que o horário do solstício de 21 de dezembro seria às 11:11, as pessoas começaram a pensar que fosse uma profecia numérica. A verdade é que podemos ver o número 11 em qualquer lugar (e algumas pessoas veem), mas você só pode persistir com a crença de que isso está relacionado a catástrofes se notar o 11 de setembro e convenientemente ignorar o dia 11/11/11, que passou sem devastações, por exemplo.
Deixem Einstein em paz! (não se preocupem, ele não era um idiota)
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Albert Einstein, o lendário físico, foi incorretamente associado à ideia de que uma "rápida inversão dos polos" poderia ocorrer. Essa teoria significa que a crosta da terra poderia girar em torno do núcleo e mandar paisagens polares para regiões trópicas e vice-versa. Einstein, como físico, não teve esta ideia, nem era autoridade em geologia. Ele apenas se interessava pela ideia proposta por Charles Hapgood, que disse que isso ocorre a cada período de 5.000 anos. Não nos poucos dias que os malucos de 2012 afirmam. Aliás, Einstein apenas disse ser um período curto em termos geológicos, não humanos.
Nostradamus não previu coisa alguma
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Nostradamus é amigo íntimo dos obcecados por conspirações, pois fez diversas previsões que foram declaradas corretas após os eventos terem ocorrido. Sua linguagem era vaga e muitas pessoas nem mesmo conseguem decidir qual previsão deve ser relacionada a 2012. O fato de Nostradamus ter feito previsões até o ano 3790 demonstra que ele provavelmente não quis dizer que o mundo terminaria em 2012.
O calendário hindu não termina
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O calendário hindu declara que após um "Brahma", que consiste de cerca de 14 "Manvantaras", o universo é destruído e recriado. O Brahma dura 4,32 bilhões de anos e nós estamos no sétimo Manvantara, o que significa que ainda restam dois bilhões e meio de anos do Brahma. Isso não impede que alguns afirmem que os hindus também previram o fim dos dias em dezembro de 2012, pois essas pessoas não vão deixar que coisas como fatos fiquem no caminho das suas histórias assustadoras. Mesmo no calendário alternativo Kali Yuga, ainda há quase 427 mil dias restantes.
Os Maias e os teóricos não são confiáveis
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Se alguém acredita que crianças nascidas em determinados cinco dias do ano estão destinadas a uma vida infeliz, você confiaria em suas previsões do apocalipse? Essa é uma das coisas idiotas em que os Maias acreditavam. Se criaram uma profecia, o que quase todas as fontes afirmam não ser verdade, ela seria mesmo tão confiável? É um pouco como entrar em um hospital psiquiátrico ou em uma convenção religiosa fundamentalista e perguntar a idade exata do cosmos. Da mesma forma, um dos principais teóricos (baseado em suas leituras do I Ching — um sistema para fazer suas próprias previsões) é Terence McKenna, um entusiasta de drogas alucinógenas que regularmente usava DMT, o alucinógeno mais forte conhecido. Qualquer um de nós faria previsões do juízo final com DMT suficiente no sangue.
Se os maias pudessem prever o futuro, teriam preservado a profecia melhor
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Se os maias realmente pudessem prever o futuro, parece lógico que se certificassem de que as pessoas soubessem sobre o fim do mundo. Toda a profecia de 21 de dezembro de 2012 se apoia no fato de que o calendário Maia documentou isso para que pudéssemos nos preparar para a destruição que virá. Certamente, se pudessem ver o futuro, eles saberiam que, neste momento, não teríamos provas conclusivas de qualquer profecia e talvez as tivessem deixado marcadas em placas douradas e mantido-as em um local seguro.
Você já deve estar ciente, neste ponto, de que a crítica lógica desses argumentos não significa nada para devotos da ideia do juízo final. Muitos já sugeriram que tudo isso é uma fabricação feita para vender guias e kits de sobrevivência do apocalipse e, com a avalanche de evidências contra a teoria, essa parece uma hipótese sensata.
Referências
Sobre o Autor
Lee Johnson has written for various publications and websites since 2005, covering science, music and a wide range of topics. He studies physics at the Open University, with a particular interest in quantum physics and cosmology. He's based in the UK and drinks too much tea.
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